
Estudo propõe fundo inovador para combater subfinanciamento de ações ligadas aos oceanos
O Ocean Streams for Climate Fund possibilita corrigir a discrepância de investimento para proteção de ecossistemas costeiros e oceânicos, que recebem apenas 2% dos fundos climáticos globais
15/10/2025
O protagonismo dos oceanos nas discussões sobre mudança global do clima está cada vez mais claro. Afinal, eles são fundamentais no equilíbrio climático do planeta e essenciais para questões vitais como segurança alimentar e energia.
No entanto, mesmo diante de tamanha relevância, os ecossistemas marinhos recebem menos de 2% do financiamento climático global – uma discrepância grave e que demanda urgência em sua resolução, especialmente porque a maioria dos países mais vulneráveis à mudança do clima são ilhas ou nações costeiras.
Para corrigir esse subfinanciamento histórico, especialistas do Route to Belém propõem a criação de um fundo inovador de financiamento para as soluções ligadas aos oceanos, o Ocean Streams for Climate Fund. Inspirado em um modelo de endowment, o OS4C Fund visa integrar adaptação climática, conservação marinha e justiça social, com um mecanismo financeiro permanente e de governança participativa para proteger ecossistemas costeiros e oceânicos.
Para o especialista em adaptação climática do Route to Belém, o biólogo e doutor em Ecologia Alexandre Castro, é fundamental posicionar o oceano como peça fundamental na travessia para um futuro sustentável, e isso passa por ampliar a destinação de fundos climáticos para questões oceânicas.
"Termos apenas 2% dos fundos direcionados para essa causa é incompatível com o protagonismo dos oceanos. Eles são um pilar fundamental nas discussões para combater a mudança climática global e nas práticas para combatê-la”, afirma Castro.
Para se ter uma ideia da discrepância no financiamento, entre 2019 e 2020, fundos multilaterais, como o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), alocaram menos de USD 300 milhões/ano para projetos marinhos, em contraste com mais de USD 40 bilhões anuais para setores como energia e transporte.
Castro ressalta ainda que tão importante quanto direcionar mais verba para soluções ligadas aos oceanos é implementar esse financiamento de forma justa. “Uma das vantagens do Ocean Streams for Climate Fund é que ele já foi desenhado com uma perspectiva de facilitar o acesso às populações que mais precisam, fortalecendo a cooperação e criando um novo modelo de governança. Isso significa que, por exemplo, um país mais vulnerável e com menos recursos pode acessar o OS4F com menos burocracia que outros fundos e também contar com apoio técnico de outras nações.”
O OS4F foi desenvolvido por Castro em co-autoria com Luciano Schweizer, especialista em Parcerias do Route to Belém, que é doutor em Engenharia de Produção e possui mais de 30 anos de experiência no setor de finanças, cooperação internacional e instituições financeiras de desenvolvimento.
"A urgência climática é um tema complexo, e creio que passamos a fase de experimentação com soluções financeiras únicas para todos os problemas. Os oceanos são uma fronteira econômica importante para a subsistência da humanidade e são, juntamente com as florestas, um sumidouro importante de CO2", afirma Schweizer. "Desta forma, entendemos que o momento de implementação e de escalar o financiamento climático demanda uma solução dedicada aos oceanos que junte os pontos positivos do multilateralismo em um instrumento focal."
O funcionamento do fundo está detalhado na Nota Técnica “Ocean's streams for climate fund: Travessia da Rio-92 à COP30 em Belém”, que pode ser acessada na íntegra em português ou inglês.
O estudo começa delineando a evolução do papel dos oceanos na agenda climática global desde a Rio-92 — quando foram reconhecidos como metáfora da interconexão ambiental — até a COP30, onde se consolidam como um elemento crucial nas soluções para a crise climática.
Essa jornada entre as conferências do clima revela a emergência de crises sucessivas (acidificação, derretimento de geleiras) , mas também o reconhecimento do oceano como aliado capaz de armazenar carbono e proteger costas. A COP30 em Belém é vista como um momento histórico, no coração da Amazônia, que simboliza a interface entre floresta e oceano.
O Ocean Streams for Climate Fund é uma iniciativa que complementa o Tropical Forest Forever Fund (TFFF). Isso porque sua função é mobilizar recursos de longo prazo para fortalecer a resiliência costeira e marinha, proteger a biodiversidade e apoiar comunidades dependentes do mar, sempre lembrando que florestas e oceanos caminham juntos como os dois ecossistemas responsáveis pelo clima do planeta. Mas não somente isso: são também os responsáveis por capturar e retirar da atmosfera o dióxido de carbono.
O OS4C Fund usa mecanismos como títulos azuis, blended finance e seguros climáticos, articulados com abordagens como a Adaptação Baseada em Ecossistemas (EbA) e a Adaptação de Base Comunitária (CBA). Capitalizado no formato de endowment, ele garante perenidade e previsibilidade, assegurando uma fonte de recursos permanente para a proteção dos oceanos. O Brasil, como anfitrião da COP30, tem uma oportunidade estratégica de liderar essa agenda.
