COMO A MUDANÇA DO CLIMA AFETA
FORTEMENTE AS PEQUENAS EMPRESAS

A nota técnica destaca como as mudanças do clima afetam micro, pequenas e médias empresas e reforça a necessidade de mobilização desse setor, já que as perdas globais causadas por eventos climáticos extremos chegam a US$ 160–220 bilhões por ano

As micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) estão entre os segmentos mais vulneráveis às mudanças climáticas, mas muitas vezes estão ausentes das negociações internacionais sobre o clima, que se concentram principalmente nos governos e nas metas globais. Com recursos limitados, cadeias de abastecimento frágeis e baixa capacidade de recuperação, as MPMEs são desproporcionalmente afetadas por eventos climáticos extremos em comparação com as grandes empresas. Essas vulnerabilidades significam que as mudanças climáticas não são uma questão política distante para as pequenas empresas, mas uma ameaça presente e urgente à sua sobrevivência.

Eventos recentes na América Latina e no Caribe ilustram a magnitude desse desafio. Em Porto Rico, 40% das pequenas empresas não reabriram após o furacão Maria em 2017, enquanto apenas 5% das grandes empresas fecharam definitivamente. Nas enchentes de 2022 em Petrópolis, no Brasil, quase 90% das microempresas relataram graves perdas financeiras, a maioria sem seguro ou reservas de emergência. Esses exemplos ressaltam por que as MPMEs e suas organizações representativas devem assumir um papel ativo nas negociações climáticas, garantindo que as políticas e os mecanismos de financiamento atendam às suas realidades, ao mesmo tempo em que as posicionam para aproveitar as oportunidades de resiliência e crescimento sustentável.

A mitigação das mudanças climáticas oferece às MPMEs oportunidades importantes para aumentar a competitividade, a resiliência e o acesso ao mercado, mas elas enfrentam barreiras como altos custos iniciais e os riscos da adoção de novas tecnologias. Para superar esses desafios, são necessárias ações políticas e coordenação institucional para fornecer apoio por meio de subsídios, parcerias de pesquisa e desenvolvimento e treinamento. No Brasil, instituições como o Sebrae, juntamente com o Senai e o Senar, desempenham um papel crucial na oferta de programas de capacitação em gestão sustentável, mostrando como o apoio direcionado pode ajudar as pequenas empresas a adotar práticas favoráveis ao clima.

27/11/2025

Para aproveitar essas oportunidades, as MPMEs devem superar desafios relacionados à escala, logística e conformidade com padrões internacionais. As ações estratégicas incluem investir em treinamento para atender aos requisitos de sustentabilidade, obter certificações reconhecidas internacionalmente, formar parcerias com empresas maiores e cooperativas e participar de plataformas de comércio global. “O acesso a linhas de crédito e financiamento climático também é crucial para financiar essas transições. Ao se posicionarem nesses mercados emergentes, as MPMEs podem não apenas reduzir a vulnerabilidade aos impactos climáticos, mas também fortalecer a competitividade e contribuir para o desenvolvimento econômico sustentável”, afirma Luciano Schweizer, autor do estudo.

Incentivos financeiros

Há uma crescente necessidade de expandir o financiamento climático para os países em desenvolvimento, criando grandes oportunidades para as MPMEs. Essas organizações podem se organizar para ter acesso ao financiamento por meio de fundos climáticos internacionais, como o Fundo Verde para o Clima (GCF), o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e o Fundo de Adaptação, desde que sejam estabelecidos mecanismos com parceiros locais, como bancos de desenvolvimento e ONGs, para canalizar recursos de forma eficaz. O acesso a esses fundos permite que as MPMEs implementem projetos de mitigação e adaptação em setores-chave, como energia renovável, agricultura sustentável, bioeconomia e gestão da água. Além dos fundos internacionais, as negociações climáticas têm incentivado a criação de linhas de crédito especiais, incentivos fiscais e subsídios adaptados para investimentos sustentáveis. 

As MPMEs desempenham um papel estratégico na construção de uma economia sustentável e resiliente às alterações climáticas, criando oportunidades para que as pequenas empresas ganhem destaque e visibilidade. Ao demonstrar práticas inovadoras e sustentáveis, as MPMEs podem alcançar reconhecimento internacional, fortalecer a reputação institucional e expandir oportunidades de parcerias comerciais e estratégicas. A participação ativa em eventos internacionais como a COP, feiras comerciais e fóruns empresariais permite que essas empresas apresentem soluções, compartilhem experiências e construam relacionamentos com governos, investidores e organizações internacionais.

As mudanças climáticas apresentam riscos e oportunidades para as MPMEs, moldando os contextos econômicos e operacionais em que elas atuarão nas próximas décadas. Empresas proativas que adotam medidas de mitigação e adaptação podem fortalecer a resiliência, reduzir perdas e obter vantagens competitivas. 

Embora não exista uma abordagem única, a atenção a essas medidas fornece um horizonte crítico para o desenvolvimento de conhecimentos, ações e políticas em nível local, nacional e internacional. À medida que eventos relacionados ao clima continuam a afetar todo o mundo, aprender com as experiências passadas e se envolver ativamente na mitigação e adaptação determinará quais MPMEs poderão sobreviver, prosperar e contribuir para o desenvolvimento sustentável.

  • Saiba mais sobre os riscos e oportunidades para as MPMEs no contexto climático, fazendo o download da íntegra do estudo ‘As pequenas empresas e as negociações do clima' em português ou inglês

Oportunidades 

Para as MPMEs, a mitigação das mudanças climáticas não se resume apenas à conformidade, mas é uma oportunidade de se diferenciarem e ganharem vantagem competitiva. As empresas que adotarem essas medidas antecipadamente poderão alcançar maior lucratividade por meio da eficiência e da inovação, construir resiliência para a sustentabilidade a longo prazo e aumentar sua visibilidade nos mercados regionais e globais. Com o apoio adequado, as MPMEs podem ir além do básico e se posicionar como contribuintes essenciais para uma economia de baixo carbono.

As negociações internacionais sobre o clima, como as realizadas no âmbito da UNFCCC e do Acordo de Paris, criam oportunidades significativas para as MPMEs se integrarem em cadeias de valor sustentáveis. Esses acordos estão impulsionando a demanda por produtos e serviços que atendam aos padrões ambientais e sociais, permitindo que as MPMEs atuem como fornecedoras de insumos sustentáveis, tecnologias limpas e serviços especializados para empresas maiores que trabalham em prol de metas climáticas. Para as MPMEs brasileiras, isso inclui áreas como agricultura sustentável, bioeconomia, energia renovável, economia circular e turismo sustentável.