COP30 e Bioeconomia: um novo motor para pequenos negócios brasileiros

Setor, que combina inovação tecnológica, uso sustentável dos recursos naturais e valorização de cadeias produtivas locais, pode movimentar até US$ 7,7 trilhões na economia global até 2030

O tema da bioeconomia teve grande protagonismo nas discussões durante a COP30, em Belém (PA). O setor combina inovação tecnológica, uso sustentável dos recursos naturais e valorização de cadeias produtivas locais, pode movimentar até US$ 7,7 trilhões na economia global até 2030. Para o Brasil, e especialmente para a Amazônia, o tema representa não apenas um desafio ambiental, mas uma oportunidade econômica estratégica para pequenos e médios empreendedores.

A COP30 colocou o País no centro do debate global sobre desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, abriu uma janela de oportunidades para  as micro e pequenas empresas (MPE), sendo a bioeconomia um dos principais caminhos de oportunidades. Afinal, ela fortalece setores como biomateriais, restauração ecológica, biotecnologia e produtos de base florestal, em um movimento que alia sustentabilidade e geração de renda. Nesse contexto, as MPEs têm papel fundamental, seja no desenvolvimento de soluções inovadoras, seja na inserção em novas cadeias de valor.

“A bioeconomia traduz a possibilidade de aliar geração de renda, inovação e  conservação ambiental. E o Brasil pode mostrar ao mundo que é possível produzir riqueza com base na biodiversidade, e não às custas dela”, afirmou Bruno Quick, Diretor Técnico do Sebrae Nacional. “Para os empreendedores, isso significa acesso a novos mercados, tecnologias  sustentáveis e oportunidades de negócios verdes, além de maior visibilidade  internacional.”

A COP30 ajudou a conectar pequenos negócios a esse mercado verde, de produtos e serviços sustentáveis como energia solar, embalagens biodegradáveis e reciclagem, promover linhas de crédito voltadas a práticas sustentáveis e disseminar conceitos de ESG entre as MPEs.

Futuro

Bruno Quick vê grande potencial em três grandes frentes da bioeconomia, que também simbolizam as bases do empreendedorismo de futuro. A primeira é a inovação nascida da natureza, que envolve biotecnologia, bioinsumos, cosméticos naturais, fitoterápicos e alimentos funcionais. A segunda é o fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade, com produtos como açaí, castanha, mel, óleos vegetais, fibras, madeira manejada e outros produtos florestais não madeireiros. E a terceira é a transição verde de negócios tradicionais, em setores como turismo, moda, gastronomia, construção e energia renovável.


“Esses segmentos, quando impulsionados pela bioeconomia, ampliam a competitividade das MPEs e posicionam o Brasil como líder global em soluções  sustentáveis baseadas em sua riqueza natural”, explica Quick. “Vemos, cada vez mais, negócios investindo em novos produtos e ampliando mercados sem perder o DNA da região, ao mesmo tempo em que fortalecem pequenos produtores locais que fornecem a matéria-prima. Além disso, temos desenvolvido estratégias de desenvolvimento territorial integradas, estimulando a governança local e a cooperação entre atores públicos, privados e comunitários. Esse modelo fortalece cadeias produtivas e cria ecossistemas de inovação que geram oportunidades de longo prazo para os  pequenos negócios.”


Consolidação da bioeconomia

A transição para uma economia de baixo carbono requer um forte alicerce em ciência, tecnologia e inovação. Alinhado à Avaliação das Necessidades Tecnológicas do Brasil (TNA_BRAZIL), o Sebrae tem atuado como catalisador na implementação e disseminação de soluções tecnológicas sustentáveis junto aos pequenos negócios, contribuindo diretamente para a consolidação da bioeconomia no País.

Para materializar essas iniciativas, o Sebrae dispõe de instrumentos robustos. Entre eles, o programa Inova Biomas, que estimula o desenvolvimento de soluções tecnológicas específicas para os biomas brasileiros, respeitando suas particularidades e potencializando seus ativos naturais. O Sebraetec Sustentabilidade facilita o acesso dos pequenos negócios a tecnologias verdes, promovendo competitividade por meio da sustentabilidade. Já o programa Catalisa atua como acelerador de startups e empresas inovadoras que desenvolvem soluções para os desafios climáticos.

Bruno Quick, Diretor Técnico do Sebrae

Embora a Amazônia seja considerada o epicentro da bioeconomia brasileira, o Brasil, com sua extensão continental e diversidade única de biomas, possui um potencial extraordinário para liderar a transição global para uma economia verde. “A bioeconomia não é um tema restrito à Amazônia”, ressalta Quick.

“Ela é um novo modelo de desenvolvimento que pode ser adaptado a todos os biomas brasileiros. Acredito que todo território tem um potencial bioeconômico, seja na Caatinga, no Cerrado, na Mata Atlântica ou no Pantanal.” Além disso, a economia do mar se apresenta como uma oportunidade estratégica para o aproveitamento sustentável e inovador dos recursos marinhos.

O Sebrae tem trabalhado para mostrar que a bioeconomia pode gerar oportunidades amplas e concretas em todas as regiões do Brasil, estimulando cadeias produtivas sustentáveis e ampliando o acesso de empreendedores a novas tecnologias e mercados. “Queremos mostrar para o micro e pequeno empreendedor que é possível ganhar  dinheiro com a floresta em pé”, disse Quick.

“No Sebrae, promovemos programas de capacitação, incubação e inovação que conectam empreendedores à agenda verde, além de iniciativas de design territorial e valorização da cultura e dos saberes locais. Também apoiamos projetos de transição ecológica de negócios urbanos, ajudando empresas a se tornarem mais verdes, competitivas e  conscientes do seu papel ambiental.”

Transformando propósito em prática

Na região do Baixo Amazonas, o Sebrae tem apoiado a implementação do Polo de Bioeconomia e projetos que fortalecem cadeias produtivas da sociobiodiversidade, demonstrando que é possível preservar florestas fomentando também o desenvolvimento econômico para as comunidades locais. O modelo de desenvolvimento proposto busca convergir esforços de empresas intensivas em inovação em bioeconomia, gestão sustentável de negócios tradicionais – como turismo e gastronomia – e iniciativas alinhadas aos princípios de ESG e Economia Circular.

A COP30 deve ampliar esse movimento, oferecendo hubs de inovação, pavilhões temáticos e rodadas de negócio voltadas à bioeconomia e à tecnologia – espaços estratégicos onde MPEs poderão se conectar com investidores, grandes empresas e instituições internacionais.

“Esses mecanismos são essenciais para transformar propósito em prática”, explicou Quick. “Os  hubs de inovação serão vitrines de soluções tecnológicas, onde as MPEs poderão  se conectar com startups, investidores e instituições de pesquisa. Já as rodadas de negócio criam pontes diretas entre empreendedores e o mercado, nacional e internacional, favorecendo parcerias e comercialização.”

A bioeconomia oferece um novo paradigma em que a proteção ambiental e o crescimento econômico se complementam, expandindo possibilidades para os pequenos negócios. Essa abordagem inovadora posiciona o Brasil como um potencial líder global na transição para uma economia mais sustentável, aproveitando suas vantagens naturais para criar soluções que beneficiem tanto o meio ambiente quanto a sociedade